Estratégia de marca própria é a que mais cresce entre os investimentos no setor. O foco está nos produtos de Higiene e Beleza e itens premium
Com apoio da marca própria, as drogarias são destaque de crescimento no varejo brasileiro. Durante o primeiro trimestre de 2023, o setor apresentou aumento de 18% na receita nominal de vendas, se comparado com o mesmo período em 2022. Os números somam os artigos farmacêuticos, medicamentos e perfumaria, conforme o relatório anual do IDV (Instituto do Desenvolvimento do Varejo).
Entre as estratégias de expansão, a marca própria ocupa um espaço relevante para o sucesso dos resultados recentes, sendo responsável pela alta de 27,4% do faturamento do varejo farma na América Latina em 2023, contra 3,5% da média global.
A lucratividade, no entanto, é apenas uma das vantagens para os varejistas, que também conseguem fidelizar clientes. Na prática, os consumidores obtêm acesso a produtos de qualidade, por valores cerca de 20% a 30% abaixo da média. Neste artigo, descubra os produtos e cases por trás dos números positivos.
Varejo farma enfatiza produtos de Higiene e Beleza (H&B)
Em geral, os alimentos ainda ocupam o espaço mais importante dentro do mercado de private label. No entanto, segundo relatório da NielsenIQ, Higiene e Beleza (H&B) é a categoria com maior ganho de importância em marca própria entre os anos de 2021 e 2022. O setor tem sido bem-sucedido no lançamento de itens exclusivos dentro do varejo farma, que obtém uma parcela relevante de faturamento impulsionado por produtos de perfumaria.
Quase todas as categorias de produtos que mais cresceram no market share de vendas de marca própria como um todo correspondem à Higiene e Beleza, sendo eles: produtos para higiene íntima, maquiagem, depilatórios, curativos antissépticos, luvas, loção pós-barba e depilação, fralda descartável para incontinência e lenços umedecidos. A única categoria que apresentou crescimento fora do setor de H&B foi a de cadernos.
Por sua vez, as categorias com maior contribuição para o crescimento de marca própria apenas dentro do varejo farma são: produtos oftálmicos; fraldas descartáveis; lenços umedecidos; produtos para tratamento de pele; fralda descartável para incontinência; bronzeadores e maquiagem.
Esses produtos considerados básicos estão abrindo espaço para outras categorias mais sofisticadas, com tíquete médio mais alto. Entre eles estão os cosméticos e itens farmacêuticos que vão desde loções para cuidados com o rosto até as vitaminas.
Ainda segundo dados da NielsenIQ, os pilares que sustentam o desenvolvimento da marca no varejo farma são preço, disponibilidade e promoção.
Os preços praticados estiveram em média 36% mais baratos do que a média das mesmas categorias. Já a disponibilidade de itens como algodão e hastes flexíveis de marca própria corresponde a mais da metade dos produtos em loja, com parcela de 72% de itens de algodão e 66% de hastes flexíveis. A marca própria também sai na frente quanto às vendas promocionais, representando 29% das vendas de valor, versus 22% do total de categorias.
Cases de sucesso: das gigantes até as redes locais
A marca própria já está consolidada entre os investimentos das grandes redes de farmácias no Brasil. Entre os cases, podemos citar a Raia Drogasil que lançou seus primeiros produtos exclusivos em 2010 e agora bateu o recorde de 1 bilhão em receita apenas com as vendas da categoria. O consumo cresceu surpreendentes 54,3% em relação a 2022.
Outra grande rede, o Grupo DPSP, proprietário das Drogarias Pacheco e Drogaria São Paulo, também prevê expansão e o fechamento de 2023 com 790 SKUs e R$ 500 milhões em vendas de produtos de private label, 65% a mais do que em 2022.
Porém, não são apenas as gigantes que estão lucrando com a marca própria no varejo farma brasileiro. Outras redes menores e independentes também já investem no modelo de desenvolvimento de marcas locais, a exemplo do Grupo Tapajós, com matriz em Manaus, capital do Estado do Amazonas. Hoje, o grupo é líder de distribuição farmacêutica na região Norte do Brasil, com atuação tanto no atacado quanto no varejo.
Responsável pelas drogarias Santo Remédio, Farmabem e Flexfarma, o grupo Tapajós já se consolidou no modelo marca própria e conta com mais de trinta produtos e duas linhas exclusivas em seu portfólio, que continua em ampliação. Hoje, a rede conta com as linhas Animativ e a Voiké.
A Animativ é o carro-chefe de vendas e está voltada para produtos que ajudam a melhorar a performance de saúde, como polivitamínicos e composto de mel com extrato de própolis. A Voiké iniciou com o lançamento de fraldas para bebês e hoje oferece desde produtos de higiene pessoal até o recém-lançado teste de gravidez em fita. Sua proposta é oferecer cuidados em todas as fases da vida.
Por outro lado, alguns dos desafios da rede são a logística e a mão-de-obra, que afetam a agilidade não apenas do negócio, mas de diversas outras farmácias independentes da região, que recebem suprimentos da distribuidora. De acordo com a reportagem da revista Exame: “Um medicamento leva, em média, 30 dias para chegar em Manaus (saindo do Sul ou do Sudeste)”.
A marca própria é um modelo que ajuda a superar esses desafios, ao passo que o grupo pode selecionar fornecedores estratégicos e ter total autonomia sobre a fabricação e distribuição de produtos, de acordo com a demanda.
Oportunidades para farmácias de todos os tamanhos
Segundo a consultoria IQVIA, o varejo farma apresentou resultados acima da média em 2022, com crescimento de 16,2%, superior a outros setores da economia. Em 2023, a projeção de crescimento é 10,5%.
Em nota à imprensa, Edison Tamascia, presidente da Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar) e da administradora de redes associativistas de farmácias Farmarcas, afirmou:
“Não vejo no mercado um cenário de grande mudança para 2023, tudo leva a avaliar que teremos um bom ano. Afirmo isso pois viemos em um constante crescimento muito robusto nos últimos vinte anos, sem interrupção, independentemente dos governos, com um crescimento de 2 dígitos. Em 2022 não foi diferente, com o fechamento de 16,2% no ano e um faturamento de 184,22 bilhões de reais.”
O sucesso de faturamento no varejo farma, somado ao crescimento na demanda por produtos exclusivos na categoria de Higiene e Beleza, abre espaço para que outras redes de farmácias experimentem o desenvolvimento de marcas próprias, desde as franquias nacionais até as pequenas redes independentes.
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