80% dos executivos estadunidenses estão convencidos a investir no segmento nos próximos dois anos. Entenda os motivos e de que maneira o Brasil pode se inspirar
Os americanos são conhecidos como os mestres do marketing e das vendas. Na contramão do mercado brasileiro, os resultados da Black Friday americana em 2023 foram excepcionais. Com crescimento de 7,5% e faturamento recorde, as vendas atingiram os 109.3 bilhões de dólares apenas nas datas sazonais de novembro, segundo dados do relatório da Adobe Analytics.
Em paralelo, o varejo nos EUA mostra-se muito mais complexo do que o recorte. O cenário pós-pandemia trouxe diversos desafios, como a perda de espaço relevante para o varejo chinês. Essa e outras pressões do mercado aumentaram a abertura para o investimento em marcas próprias, enquanto modelo mais econômico e menos suscetível às flutuações externas.
Segundo estudo da FMI (Food Industry Association): “nos próximos dois anos, 80% dos executivos do varejo pretendem investir em marcas próprias de forma moderada ou significativa.” A análise é de que ainda há uma vastidão de oportunidades para se explorar.
Veja a seguir dados sobre marca própria nos Estados Unidos e os motivos que favorecem o modelo no cenário atual.
Os dados da marca própria nos EUA
A América do Norte é a segunda região do mundo com maior aderência à marca própria, com 17,3% de participação de mercado. O país perde apenas para a Europa, com 32,2%, segundo dados do Santander. Acesse aqui o estudo completo.
Ao olhar apenas para os EUA, os estudos da FMI apontam que: “77% dos consumidores que já adquirem esses itens pretendem ampliar a compra.”
Segundo outro estudo, da PLMA (Private Label Manufacturers Association), a marca própria cresceu tanto em unidades quanto em valor, entre os anos de 2022 e 2023. Apenas no primeiro trimestre do ano de 2023, o aumento em valor foi de 10,3%.
Os setores em que o crescimento foi mais expressivo foram, respectivamente: bebidas (17,1%), padaria (16,8%), alimentos em geral (16%), refrigerados (15,5%), flores (13,1%), rotisseria (12,4%) e cuidados pessoais (10%).
Não restam dúvidas da popularidade da marca própria entre os americanos, sendo muito bem-sucedida em cases como os da CVS Health. Porém, o que torna o cenário atual mais favorável do que nunca? Confira abaixo os principais motivos.
Por que a marca própria se tornou irresistível no varejo americano?
No varejo americano, a paixão por marcas próprias desencadeou uma transformação notável no mercado.
Essa alta não é apenas uma resposta à estabilidade econômica que emerge após um período complexo, mas também reflete uma mudança significativa nos hábitos de consumo dos americanos.
Veja abaixo com mais detalhes a explicação para esse boom dos itens de private label no varejo americano:
Momento de estabilidade econômica
Após um período intenso de crise econômica no país e no mundo, os empresários retomam o planejamento estratégico mais proativo e menos reativo às demandas emergenciais do mercado.
Tal contexto é favorável para o desenvolvimento das marcas próprias que exigem planejamento, estratégia e solidez em toda a cadeia produtiva.
Nesse sentido, vale ressaltar que apesar dos números do varejo terem se mostrado positivos desde a pandemia, tal crescimento desenfreado agora enfrenta outros problemas como a concorrência ultra-acirrada com o mercado estrangeiro e as dificuldades financeiras da população, devido à alta da inflação e dos juros.
Por sua vez, as marcas próprias representam um equilíbrio entre os preços abaixo da média para compradores e a tão sonhada autonomia para lojistas. Não à toa, estão no topo da lista das promessas de investimentos futuros do varejo.
Mudança nos hábitos de consumo
Mais cautelosos, agora os consumidores americanos também estão remodelando o varejo a partir de novos hábitos de consumo. Chamados em todo o mundo de smart consumers, aos poucos, os compradores tornam-se mais racionais e reflexivos.
No caso dos EUA, entre os principais motivos para o comportamento, encontra-se o endividamento familiar da população. Apesar do aquecimento na economia, hoje o país vive um dilema de mercado que se reflete em toda a sociedade, ainda como resultado das crises globais.
Assim, a busca por preços atraentes, com máximo de valor agregado possível aos produtos, é mandatória. O requisito tem sido atendido com maestria pela marca própria, que, além de funcional, é inovadora em diversas categorias, conforme revela relatório da NielsenIQ.
Pressão social e alta do ESG
Outro fator que abre portas para as marcas próprias nos EUA é o aumento das buscas por sustentabilidade. Segundo pesquisa da McKinsey e NIQ, as preferências de sustentabilidade já estão ajudando a impulsionar a mudança dos consumidores para a marca própria.
O estudo constatou que os produtos que fazem alegações ambientais, sociais e de governança (ESG) obtiveram crescimento mais rápido do que os produtos sem elas.
A tendência se destaca ainda mais no private label que tende a vender mais do que produtos de marcas líderes, quando também se posicionam em ESG. “Em 88% das categorias, os produtos de marca própria que fizeram declarações relacionadas a ESG conquistaram mais do que sua parcela esperada de crescimento.”
Como o Brasil pode se inspirar?
Se ainda há muito espaço no varejo americano para trabalhar com marca própria, no Brasil, as oportunidades são imensas. Na América Latina, a participação do setor é a mais tímida entre todos os continentes, com apenas 3,1% do mercado. Já em território nacional, elas representam cerca de 7% do total de vendas nos supermercados.
O Brasil também está diante de um cenário semelhante ao dos Estados Unidos, com maior estabilidade econômica, o que garante a estrutura para planejar a marca própria de maneira estratégica e consistente.
Ao mesmo tempo, os consumidores brasileiros estão familiarizados e sintonizados com o consumo de itens exclusivos das lojas. Segundo a Associação Brasileira de Marcas Próprias (Abmapro), os produtos de marca própria já estão presentes em mais de 40% dos lares brasileiros.
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